quinta-feira, 15 de julho de 2010

Nasci.

Este humilde blog acorda de um sono profundo. É de admitir que quando nascemos - e assim também o fazem blogs e perfis de outras mídias - é como se acordássemos de uma noite longa, breve em suas experiências, mas comprida em seu tédio.

A idéia de escrever sempre esteve presente. Mas somente em um momento, como se clicasse um ou dois neurônios, como se todas as variáveis do universo - aquela estória de espaço-tempo, sabe lá o que ela quer dizer - estivessem alinhadas, em uma harmonia pré-estabelecida, da qual só se é agraciado em ocasiões de raridade quase hipotética, vem então, neste momento e, somente neste, valer-se de um pouco de inspiração.

Esta inspiração, no entanto, tentou se expressar diversas vezes, com a audácia de uma toupeira que sai à busca de alimento. Foi nesse instante de coragem que atirei minha nobre virtude às ofertas de emprego em jornais britânicos e americanos. Pois, há quem comente, e isto certamente despertou algumas centenas ou milhares de sinapses (não se sabe ao certo o número, que nisto não me aventuro), que trabalhar no exterior é mais rentável e digno. 

Tentei para um tal de The International, e alguns outros contatos menos influentes. Obtive algumas respostas sutis, diziam que meu currículo não era coerente com as metas da empresa (mas que seria guardado para futuro contato). Não me importava muito, pois não compreendendo as metas das revistas locais, não deveria me importar com as que estão longe. Não é pela ignorância, mas pela pura e sincera falta de interesse. 

Depois das frustradas tentativas, tendo uma delas resultado na elaboração de uma resenha (que me tirou sete dias de descanso) àcerca de um chá emagrecedor (destes bem fajutos), decidi lançar-me - com o perdão do trocadilho - ao sistema internacionalmente conhecido como Freelancer, responsável pela intermediação de empregadores e profissionais autônomos. Assim, horas e horas se passaram enquanto minhas mãos, acostumadas ao teclado e ao mouse, buscaram algumas dentre as milhares de ofertas publicadas.

"want article writer for work" Fostes tu aceito para integrar este digníssimo projeto de freelancer, terias portanto de escrever 55 artigos de baixa qualidade, por $30-$250. Os trinta a duzentos e cinquenta é você que escolhe. É evidente que, na busca por artigos de baixa qualidade, o primeiro que sugerir "quero receber $30 por este trabalho" será gratificado. Gratificado? Tome nota: $30. Seria o equivalente a 0,55 cents por artigo. Um artigo padrão de 600 palavras - e lá fora eles apreciam pagar por palavra - lhe renderia cerca de 0,00092 cents por palavra. Se isto é uma profissão digna, então a palavra perde todo o significado.

Alguns projetos, no entanto, pareceram mais rentáveis. "Mais", pois não eram, por definição, rentáveis. Mas aceitáveis. Foi então que aceitei o de uma pessoa (dupla, trio, cooperativa, empresa, jornal, revista, pasquim, não se sabe) que intencionava receber cinco artigos por dia. Não quero dissertar agora sobre a má sorte que pareço ter com o número cinco. O fato em questão se resume a uma desvalorização da palavra, daquilo que une tanta gente - algumas que não merecem, mas não vem ao caso - e não termos mais a palavra como faculdade, pré-requisito, não deveria ser-nos novidade.

Os cinco artigos me recompensariam com $10 por dia, $300 em um mês. Algumas horas após me apresentar e enviar um sample do meu trabalho, fui aceito. Pediu-me que enviasse outro sample, desta vez com tema pré-definido. E o enviei. Foi um trabalho ingrato dissertar sobre alívio da alergia com palavras-chaves escolhidas a mal gosto. Assim, dentro de algumas horas, fui intimado novamente com a incômoda e indelicada pergunta "please, are you not ready for the job?". Ah! se este alguém, ou alguns, soubesse o quanto me destrói esse sentir para baixo, essa deterioração do meu orgulho...! Respondi que estava aguardando os temas, caso houvessem, finalizando com o meu - um cliché, a essa altura - 'kind regards', que furtei de um amigo tcheco.

Foi com um último disparate - "please are you interested in this job at all?" - que surtei. Bem como me atirei neste ramo, fugi dele como se um suicida fosse, pois há de se notar que a maioria foge da morte quando a encara, apesar de ter lutado para consegui-la. Assim, com todo o meu kindness, saí, de forma bruta - alguns diriam, e eu também - com uma mensagem semelhante a que se segue:

HAH,

I don't want it anymore, and please do not reply.

I'm tired of this stupid freelancer system, just take me out of this.

Kind regards,
Cause, you know, I'm very VERY polite, so I always finish my messages politely.

With love,
Antonio.
Não entendo porque o fiz. Não entendo este sistema, tampouco quem se submete a ele. Mas é errado parar. Nós - e especialmente nós, que escrevemos - devemos empenhar esforços em entendê-lo. Mas isto pretendo fazer em breve - promessa daquele que vos escreve.

Fato que, após tantos artigos e samples, notei o desperdício de palavra e o horror das dissertações forçadas, tal que um novo sentimento tomou lugar - um individualismo (egoísmo? Não). Apenas uma alavanca, daquelas que erguem contra-pesos, para aproximar-me da vontade de construir algo sozinho. E foi daqui, desta vaga impressão, que surgiu o nascimento, ou que nasceu o surgimento deste espaço.

Após criar uns dez blogs e destruir outros vinte, trago este para que se deliciem com artigos do cotidiano que hei de escrever com mais empenho, em minha língua nativa, o português - assim - com letra minúscula.

Aqui nasce o The Brazilian Times.

Sejam bem-vindos.